A Vila de Avintes e a fusão entre o Porto e Vila Nova de Gaia

Desde há algum tempo a esta parte, que se vem falando e escrito sobre a possibilidade de uma fusão entre o Porto e Vila Nova de Gaia, algumas vezes aparecendo o tema, como sendo um acontecimento necessário e até desejado, procurando-se aparentemente, que o mesmo vá sendo interiorizado pelo cidadão comum, sem a discussão e reflexão profundas que este tema, devia merecer.
Como cidadão avintense e gaiense e face à repercussão que o acontecimento poderá ter para Vila Nova de Gaia em geral e para Avintes em particular, gostaria de deixar aqui o meu contributo, para a discussão do tema.
Os gaienses de uma forma geral, independentemente da sua freguesia de naturalidade, que conheçam um pouco da história de Gaia e da riqueza e diversidade cultural da maioria das freguesias, que sintam a força e grandeza do movimento associativo gaiense e acreditem no futuro das gentes que aqui moram desde tempos anteriores à nacionalidade portuguesa, jamais poderão defender o desaparecimento de Gaia, para se diluir na cidade do Porto.
Devemos isso sim, apostar numa maior interligação dos vários concelhos, com um aprofundamento dos poderes da Área Metropolitana do Porto, favorecendo a criação de sinergias e complementaridade entre os concelhos da metrópole portuense, de forma a melhorar a nossa qualidade de vida, sem a necessidade do desaparecimento dos mesmos.
Alias, o mesmo se passa se pensarmos a um nível superior, em que quase todos nós somos favoráveis a uma cada vez maior interligação dos países europeus, dentro da União Europeia, sem que isso signifique que se apoia o desaparecimento de Portugal como nação independente, ou que se defenda a fusão entre Portugal e Espanha, para se formar um grande país ibérico.
Tirando, talvez as freguesias urbanas de Vila Nova de Gaia, como Santa Marinha, Mafamude, Canidelo ou Oliveira do Douro, que eventualmente possam não ter muito a perder, (também não sei se terão a ganhar) não me parece que, por si só, a fusão entre Porto e Vila Nova de Gaia, traga um maior desenvolvimento às freguesias gaienses, do que aquele que possa existir, se o concelho continuar autónomo.
Avintes, por exemplo, deixaria de ser uma das freguesias do concelho, conhecida pelas suas características próprias, para passar a ser em muito curto prazo, simplesmente uma freguesia dormitório e suburbana do concelho de Porto.
Se presentemente Avintes fica quase esquecida e um pouco abandonada pelos vários poderes que vêm passando pela autarquia gaiense, como seria se o poder passasse da avenida da República, para a avenida dos Aliados?
Seguramente muito pior, pois em vez de ser uma entre vinte e quatro freguesias, passaria a ser uma entre trinta e nove freguesias.
Assim pela minha parte, não serei favorável a que Avintes, venha a fazer parte integrante desta “mega” cidade do Porto, mas também não sou nem serei defensor da refundação do pequeno Concelho de Avintes, que alguns defendem, pois a dimensão da nossa freguesia, mesmo que aglutinando mais algumas freguesias circunvizinhas, não permitiria a criação de um concelho forte, aliás como alguns dizem acontecer hoje com o pequeno concelho de Espinho, que outros ou os mesmos, querem fazer crescer à custa das freguesias mais a sul de Vila Nova de Gaia.
Como tal, sou de opinião que, caso venha num futuro mais ou menos próximo, a concretizar-se esta ainda hipotética fusão entre Porto e Gaia, e não seja mais possível manter-se o concelho de Vila Nova de Gaia tal e qual existe presentemente, que a sociedade civil gaiense unida com as suas associações e colectividades (muitas delas centenárias), tudo façam para que a maioria possível das freguesias do actual concelho, permaneçam unidas e formem um novo concelho.
Este novo concelho poderia continuar a ter uma costa marítima e uma frente de rio, logo manteria quase todas as potencialidades turísticas, continuaria a ter uma importante presença a nível cultural e associativo e poderia manter ainda muito da sua força económica, capaz de continuar a ser, não seguramente com a mesma força actual, mas ainda com capacidade suficiente para dar um contributo significativo no desenvolvimento e consolidação da Área Metropolitana do Porto.
No novo concelho, Avintes continuaria a manter a sua identidade e características próprias, numa união de freguesias, com um estatuto de igualdade entre si, ao contrário do que aconteceria se pretendêssemos refundar o pequeno concelho de Avintes, que seria seguramente “esmagado” pelos grandes, como o foi no passado.

Cipriano Manuel Castro
publicado por Cip Castro às 19:26 | comentar | favorito