Ao começar a minha comunicação no 22º Fórum Avintense, quero em jeito de introdução apresentar os três propósitos que pretendo alcançar.
Primeiro alertar para o que pode acontecer nos próximos meses e para a necessidade de estarmos o mais possível unidos na defesa da nossa freguesia, não deixando nas mãos dos outros aquilo que cabe a nós fazê-lo. Depois lembrar que não podemos apenas viver das recordações do passado e que precisamos de acreditar e valorizar os jovens para ganharmos o direito a termos futuro e finalmente deixar-vos alguns pontos de reflexão sobre as alternativas que teremos, caso deixemos de ser independentes e nos obriguem a unirmo-nos com outras freguesias vizinhas.
Muitas pessoas, em diversos locais e ocasiões costumam afirmar que Avintes é uma freguesia diferente, que as suas “gentes” têm características próprias, que temos certas tradições e costumes que nos distinguem, que temos uma broa que é única e um topónimo que não existe em mais lado nenhum, etc., etc.
Concordo em grande parte com isto, embora, como acredito que os naturais de muitas outras localidades do nosso país, deverão pensar o mesmo das suas terras, prefiro dizer que Avintes é uma terra igual a muitas outras, mas diferente de outras tantas.
Vem isto a propósito de que, e embora muitas pessoas ainda não tenham prestado a devida atenção, estamos num momento crucial para a existência futura da nossa terra, existindo a possibilidade efetiva, de dentro de poucos meses, poder deixar de existir a Freguesia de Avintes.
Na verdade, está neste preciso momento a ser debatido na Assembleia da República uma proposta de lei, que pretende efetuar uma reforma administrativa do nosso país, e que a ser aprovado nos termos em que foi apresentada, levará, mesmo que não seja esta a palavra usada, à extinção de muitas centenas de freguesias em Portugal.
Convém recordar por isso que, na última grande reforma administrativa do país ocorrida há já cerca de 170 anos atrás, em meados do século XIX, e feita por Mouzinho da Silveira, ocorreu precisamente a extinção do então Concelho de Avintes.
Ora 170 anos depois da extinção do Concelho, será que vai agora ser extinta a freguesia de Avintes?
Sinceramente espero bem que isso não aconteça e por isso desde há uns meses a esta parte, tenho vindo, felizmente com mais algumas pessoas, em todas as ocasiões e em todos os lugares em que isso me é possível, e mais uma vez o estou a fazer neste Fórum Avintense, a procurar defender a razão para a continuação da independência administrativa de Avintes, ao nível de freguesia.
E defendo isto, quer pela nossa história, com registo de existência há mais de mil anos, quer pela nossa unidade geográfica, localizada entre o leito dos rios Douro e Febros, quer por uma forte identidade cultural e gastronómica, que desde há muitos anos temos demonstrado e de onde se destacam o gosto pelo Teatro e a Broa de Avintes.
Mas uma terra não pode só afirmar-se pelo seu passado, pela sua história, pelas suas tradições, tem de continuar a ter razão de ser no presente e tem de ter perspetivas para o seu futuro.
Por isso e se no imediato é necessário unirmo-nos e defendermos a continuação da nossa freguesia, é também preciso pensar o futuro e para isso temos de apostar cada vez mais nos jovens, acreditar nas suas capacidades, naturalmente sem que isso implique desaproveitar o conhecimento dos mais velhos.
É hoje comum em Portugal, dizer-se que nunca tivemos tantos jovens tão bem preparados e com tantos conhecimentos, se isso é verdade no país, também o é em Avintes.
Em Avintes, também temos jovens com ideias, com vontade de fazer coisas, alguns já estão mesmo a fazer, ainda que às vezes isso possa não transparecer. Provavelmente nunca como hoje, tivemos tantos jovens a fazer teatro, quer nos Plebeus, quer no Mérito, ou a tocar na Banda Musical, e mesmo a nível profissional, temos jovens a lançarem-se no mundo empresarial, jovens a dirigir instituições, temos jovens criativos, para além das jovens que praticam desporto em clubes, como os Restauradores, que mesmo sem qualquer pavilhão na nossa terra, ainda recentemente foram campeãs distritais juniores de futsal, entre muitos outros exemplos.
Ainda no final do ano passado, aqui nesta mesma sala, numa outra organização, foi possível ouvir jovens naturais de Avintes, com provas dadas em várias áreas profissionais, que apresentaram ideias e propostas para o futuro de Avintes.
É pois a minha convicção, que é preciso dar mais espaço aos mais novos, numa renovação natural, e numa abertura a novas propostas e a novas realidades para conseguirmos continuar a afirmar Avintes, como freguesia de e com futuro.
Mas por outro lado, se devemos manter firme o nosso propósito e a nossa razão de manter a nossa independência administrativa enquanto freguesia, temos de igualmente considerar que isso pode não acontecer.
Podemos, por mais vontade e razões que haja da nossa parte, ter de cumprir uma lei que imposta de cima para baixo, deite por terra os nossos anseios e ambições futuras.
É por isso que quero também aqui deixar, ainda que de uma forma inicial, alguns pontos para reflexão, para o caso de virmos, por imposição da lei, a ser obrigados a juntarmo-nos a alguma ou algumas freguesias vizinhas.
Se repararmos no mapa, Avintes encontra-se ligada a 4 freguesias vizinhas, em que 3 delas, Oliveira do Douro, Vilar de Andorinho e Pedroso são mais populosas que Avintes e apenas uma, Olival é menos populosa.
Qual destas 4 freguesias, seria a melhor parceira, num “casamento” com Avintes?
Sinceramente ser-me-á difícil fazer uma escolha, dado que todas têm uns aspetos mais positivos e outros menos positivos.
Comecemos por Olival, das 4 é a que daria a nós Avintenses uma superioridade quantitativa em termos populacionais, mas é de todas, a freguesia mais rural. Tivemos no passado ligações próximas, através do lugar de Arnelas, mas em geral em tudo o resto pouco nos liga a esta freguesia vizinha. Em termos geográficos, seriamos uma freguesia em forma de “banana”, com grandes distâncias entre os seus extremos, pouco aconselhável para uma eficiente gestão e distribuição de equipamentos que servissem ambas as comunidades.
Quanto a Pedroso, ficaríamos em desvantagem em termos populacionais e territoriais, ficaríamos longe da sua parte mais urbana, a Vila dos Carvalhos, sendo que os lugares mais próximos de Avintes são ainda pouco urbanos. Por outro lado, Avintes é uma freguesia ribeirinha, e ficaria ligada a uma freguesia do interior do concelho, e mais uma vez com uma grade dispersão territorial e pouco homogénea.
Já quanto a Vilar de Andorinho, tivemos no passado e continuamos a ter no presente, uma grande interligação, proporcionada em grande medida pelo Rio Febros, que sempre serviu como rio de união, como ainda hoje acontece na zona do Parque Biológico, parque que embora tenha a sua entrada e principais instalações localizadas em Avintes, ocupa também uma grande parte de terrenos de Vilar de Andorinho. Sempre houve proximidade e ligações entre as duas freguesias, mas Vilar de Andorinho é também nos dias de hoje umas das freguesias de Gaia menos homogéneas em termos de população, dada a existência no seu território do bairro ou urbanização de Vila D’Este, que só por si representa mais de 50% dos seus habitantes, população que não é na sua maioria originária de Vilar de Andorinho.
Finalmente temos Oliveira do Douro, a freguesia mais urbana e mais populosa de todas, a mais próxima do centro da cidade de Gaia, uma freguesia igualmente ribeirinha e com uma praia fluvial, que também como a nossa, é conhecida por Praia do Areinho. Desde que o rio deixou de ser a “estrada” de saída, toda a circulação dos avintenses para o Porto e centro de Gaia foi e é feita passando por Oliveira do Douro. Se por um lado é a freguesia vizinha com quem temos maior continuidade em termos urbanos, é também com esta freguesia que ficaremos em maior inferioridade populacional, para além de ser talvez a freguesia com quem no passado, que não propriamente no presente, existiram maiores rivalidades.
Feitas estas reflexões não vou por agora fazer qualquer valorização sobre as vantagens e as desvantagens de uma união ou fusão com qualquer uma destas 4 freguesias, penso que não é hoje nem é aqui o lugar para isso.
Por agora entendo que devemos, concentramo-nos no nosso objetivo principal de defesa da manutenção da nossa independência administrativa, mas é importante que cada um vá pensando e analisando alternativas, para o caso de não alcançarmos o “nosso” objetivo principal.
Avintes, 3 de Março de 2012 Cipriano Castro
Nota: o texto acima foi a minha comunicação apresentada hoje no 22º Fórum Avintense
Slides que acompanharam a apresentação: