E se acabarem com o concelho de Gaia, o que deverão fazer os avintenses?
O tema da fusão de Gaia na cidade do Porto, ao contrário do que algumas pessoas possam pensar, não é assunto novo desta pré-campanha!
Foi em 2004, também alguns meses antes das eleições autárquicas de 2005, que o Dr. Menezes "lançou ao ar", pela primeira vez, este assunto.
Creio que já nessa altura, os seus sonhos e desejos, "voavam" muito mais sobre a avenida dos Aliados, do que sobre a avenida da República.
Nessa altura, como hoje, sempre gostei de dizer o que penso, sempre orientando as minhas opiniões e posições, na defesa do que me parecem ser os interesses de Avintes.
Fica aqui, para alguns (creio que poucos) recordarem e outros (devem ser a maioria) conhecerem pela primeira vez, o que eu pensava e no essencial continuo a pensar, sobre o que deve ser a posição de Avintes e dos avintenses, numa eventual futura fusão de Gaia no Porto, que por minha parte, desejo que NUNCA aconteça.
Esta texto foi escrito e apresentado no XV Fórum Avintense, em setembro de 2004!
A VILA DE AVINTES E A CIDADE PORTOGAIA
Muito se tem falado e escrito nos últimos tempos sobre a possibilidade de uma fusão entre o Porto e Vila Nova de Gaia, quase sempre aparecendo o tema como inevitável, necessário e até desejado, procurando-se aparentemente, que o mesmo seja como que assimilado e interiorizado pelo cidadão comum, sem a discussão e reflexão profundas que este tema, deve merecer no meu entender, e que seguramente terá de terminar com um referendo à população dos dois concelhos, caso se pretenda tornar numa realidade.
Sei que este não será o lugar, nem serei eu um dos protagonistas dessa discussão, que espero venha a acontecer, antes de se tomar qualquer decisão, no entanto gostaria de deixar aqui, desde já, o meu contributo para a posição, que Avintes e os Avintenses deveriam tomar, nessa hipotética ocasião.
Desde tempos muito antigos, Avintes sempre tem estado muito ligada à cidade do Porto, quer em termos económicos, onde por exemplo, o comércio da Broa de Avintes figura como um dos aspectos mais emblemáticos, da já longa ligação comercial de Avintes com o Porto, mas também ao nível cultural é grande a nossa ligação, sendo a este nível significativo que um dos maiores escultores da cidade do Porto, o escultor Henrique Moreira, seja um dos mais ilustres avintenses.
Ainda hoje, penso que serão poucos os avintenses, que se estiverem longe de Avintes, e se quiserem localizar sua terra, ou o seu lugar de origem, não apresentem o Porto como referência, aliás como se passará o mesmo com outro qualquer gaiense ou com os habitantes dos outros concelhos vizinhos, pois na realidade os portuenses não são apenas os cidadãos do concelho do Porto, mas sim, todos os habitantes da grande Área Metropolitana que é o PORTO e que ultrapassa em muito a cidade do Porto.
Aliás esta situação passa-se em qualquer grande metrópole europeia, como por exemplo Paris, sendo até costume dizer-se cá em Portugal, que Paris é a segunda ou terceira cidade portuguesa, tal é o número dos nossos compatriotas, que lá habitam e trabalham.
No entanto a grande maioria dos nossos compatriotas nem sequer mora realmente na cidade de Paris, mas sim nas diversas cidades vizinhas e contíguas, da capital francesa, que no seu conjunto formam uma imensa área metropolitana, conhecida como Paris.
O mesmo se passa com alguns monumentos parisienses, como é o caso por exemplo, do Arche de La Defense, inaugurado pelo anterior Presidente François Miterrand, nas comemorações dos 200 anos da Revolução Francesa, arco que na realidade não fica na cidade de Paris, mas sim em Nueilly-Sur-Seine, situação que passa perfeitamente despercebida a quem o visita, tal é a união e complementaridade urbana que existe, entre as duas cidades, que em conjunto com todas as outras cidades circunvizinhas, formam a metrópole parisiense.
Por tudo isto que acabei de dizer, considero lógico que todos os gaienses em geral e os avintenses em particular, nos sintamos também muito naturalmente, e pela minha parte o sinto com orgulho, portuenses, pois na realidade todos somos do PORTO.
Dito isto, pode parecer até aqui, que sou defensor de uma fusão ou união, entre o Porto e Vila Nova de Gaia.
Sinceramente não sou.
Penso mesmo que qualquer gaiense, independentemente da sua freguesia de naturalidade, que conheça um pouco da história de Gaia, que realmente sinta a riqueza e diversidade cultural da maioria das freguesias de Gaia, que sinta a força e grandeza do movimento associativo gaiense e acredite no futuro das gentes que aqui moram desde tempos anteriores à nacionalidade portuguesa, jamais poderá defender o desaparecimento de Gaia, para se diluir na cidade do Porto.
Na minha opinião, uma coisa é a união dos vários concelhos, com um aprofundamento dos poderes da Área Metropolitana do Porto, favorecendo a criação de sinergias e complementaridade entre os concelhos, e outra é o desaparecimento ou fusão dos concelhos.
Alias o mesmo se passa se pensarmos a nível superior, em que quase todos, somos favoráveis a uma cada vez maior interligação e aproximação dos países europeus, dentro da União Europeia, sem que isso signifique que se apoia o desaparecimento de Portugal como nação independente, ou que se defenda a fusão entre Portugal e Espanha, para se formar um grande país ibérico.
De igual modo, também não é necessário, por exemplo, em Vila Nova de Gaia, acabar com as freguesias e com as suas características e diversidade culturais, para que o concelho tenha mais desenvolvimento.
Tirando, talvez as freguesias urbanas de Vila Nova de Gaia, como Santa Marinha, Mafamude, Canidelo ou Oliveira do Douro, que eventualmente possam não ter muito a perder, não me parece que a fusão entre Porto e Vila Nova de Gaia, traga um maior desenvolvimento ás freguesias gaienses, do que aquele que possa existir, se o concelho continuar independente.
Avintes em particular, deixaria de ser uma das principais freguesias do concelho, conhecida pelas suas características próprias, para passar a ser simplesmente uma freguesia dormitório e suburbana do concelho do Portogaia.
Se presentemente estamos quase esquecidos e um pouco abandonados pelos vários poderes que vêm passando pela autarquia gaiense, como seria se o poder passasse da avenida da República, para a avenida dos Aliados?
Seguramente ainda pior, pois em vez de sermos uma entre vinte e quatro freguesias, passaríamos a ser uma entre trinta e nove freguesias.
Assim pela minha parte, não serei favorável a que Avintes, venha a fazer parte integrante desta mega cidade do Porto, mas também não sou nem serei defensor de qualquer iniciativa de refundação do Concelho de Avintes, que não teria capacidade para sobreviver, como aliás o não teve no passado, como compreenderam os nossos antepassados, que numas das ultimas cartas enviadas pela Câmara de Avintes à Rainha de Portugal, tentaram alargar o Concelho, para que ele pudesse ter sobrevivido, carta esta que a dada altura dizia:
“Provou-lhe a necessidade da conservação deste Concelho, e que a ele se deviam unir as freguesias limítrofes de Oliveira do Douro, Vilar de Andorinho, Pedroso, Olival, Sandim, e Seixezelo, que todas rodeiam este Concelho, e com quem estão em relação pelas moagens. e lenhas, que trazem a Avintes para o fabrico do Pão, que levam para o consumo da Cidade do Porto.”
Como tal, a minha opinião, é que caso venha num futuro mais ou menos próximo, a concretizar-se esta ainda hipotética fusão entre as duas cidades, e não seja mais possível manter-se o actual concelho de Vila Nova de Gaia, que Avintes e os Avintenses, tudo façam para que o maior número possível de freguesias do actual concelho gaiense, permaneçam unidas e constituam um novo concelho.
Este concelho poderia continua a ter uma costa marítima e uma frente de rio, logo manteria quase todas as potencialidades turísticas, continuaria a ter uma importante presença a nível cultural e associativo e poderia manter ainda muito da sua força económica, capaz de continuar a ser, não seguramente com a mesma força actual, mas ainda com capacidade suficiente para dar um contributo significativo na Área Metropolitana do Porto.
Neste concelho poderia Avintes continuar a ser uma freguesia de referência, poderia continuar a lutar por manter a sua identidade e características próprias, numa união de freguesias, com um estatuto de igualdade entre si, em vez de virar o parente pobre, que se junta ao parente rico, ou pior ainda, caso se tentasse recriar o pequeno concelho de Avintes, que seria seguramente esmagado pelos grandes, num orgulhosamente só que não se justifica nem seria novamente viável, como o não foi na passado, como alias o compreenderam os nossos antepassados que sempre lutaram, embora sem sucesso, para que o então concelho de Avintes, não ficasse restrito à nossa freguesia.
Avintes, 2004-09-10 Cipriano Castro